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DOIS MENINOS EM DOIS TEMPOS - JUCA E CHICO
Escolhas referentes à materialidade exercem influência direta na futura experiência de leitura que o objeto-livro irá propiciar ao leitor. Uma forma clara e objetiva de perceber isso é quando podemos comparar um mesmo texto em projetos diferentes. - por Revista Emília

Publicado em: Revista Emília - Dez 2013

http://www.revistaemilia.com.br/mostra.php?id=366

 

Dois meninos em dois tempos

O mesmo original em dois livros

POR MAÍRA LACERDA

Escolhas referentes à materialidade exercem influência direta na futura experiência de leitura que o objeto-livro irá propiciar ao leitor. Uma forma clara e objetiva de perceber isso é quando podemos comparar um mesmo texto em projetos diferentes. Já apresentei aqui algumas comparações desse tipo, pois as acho extremamente instigantes e acredito que tais exercícios de comparação e análise nos permitem aguçar o olhar para as relações que se estabelecem entre texto e imagem, especialmente quando podemos comparar edições contemporâneos.

Recentemente encontrei nas livrarias uma reedição de As travessuras de Juca e Chico, com texto e ilustração de Wilhelm Busch, traduzida por Claudia Cavalcante e editada pela Iluminuras em 2012. A obra é um clássico da literatura infantil, tendo sido escrita na Alemanha de 1865, e foi uma precursora das histórias em quadrinho ao constituir a narrativa por meio da interação entre texto e imagem. Em uma edição cuidadosa, cujo projeto gráfico é assinado por Eder Cardoso/ Iluminuras, os trechos do poema rimado e as ilustrações originais do autor são colocados em diálogo de forma a propiciar uma leitura tranquila, onde a narrativa flui com o olhar percorrendo texto e imagem de forma intercalada.

Algum tempo depois deparei com outra edição do texto de Busch, Juca e Chico: história de dois meninos em sete travessuras, dessa vez publicado pela Pulo do Gato, também em 2012, que recuperou a maestria da tradução de Olavo Bilac. Nesta edição é proposta uma “releitura das ilustrações originais do autor”, em um projeto gráfico arrojado, realizado pela Casa Rex, propiciando “movimento e dinamicidade” à história, conforme apresentação da editora. 

Ao olharmos para esses dois livros somos chamados a refletir sobre a diferença entre os objetos e sobre como cada um deles media a experiência de leitura desta obra. Primeiramente podemos observar as diferenças físicas do objeto. A Iluminuras escolheu apresentar o poema no formato horizontal e por meio de uma encadernação em capa dura, e a Pulo do Gato apresenta o texto no formato vertical e com encadernação de brochura. Tais escolhas de formato mudam a forma como o leitor se relaciona com o objeto-livro, como o olha, como o segura em suas mãos e como o folheia. E a encadernação modifica esteticamente a classificação da obra, já que a capa dura traz características de nobreza e elegância ao objeto, enquanto a brochura torna o objeto mais íntimo, aproximando-o do leitor.

Contudo, a maior diferença entre eles é a escolha editorial de como apresentar a narrativa e retratar a ilustração. Enquanto na edição da Iluminuras a narrativa se desenvolve sequencialmente na leitura de texto e imagem, mantendo a apresentação original da história prevista pelo autor, na edição da Pulo do Gato a leitura do texto é sequencial, mas as imagens se misturam tornando a narrativa dinâmica visualmente, de forma a parecer que tudo acontece ao mesmo tempo, representando nas ilustrações a ideia de tempo e da rapidez dos atos dos meninos ao realizar as suas traquinagens.

Colocando as duas versões uma ao lado da outra, podemos observar melhor como a experiência literária se modifica pela apresentação gráfica dada à narrativa e à ilustração, que define, inclusive, a que partes do texto o leitor tem acesso a cada virar de páginas.

A escolha por uma narrativa sequencial, com texto e imagem se alternando em uma página dividida em duas colunas, feita pela editora Iluminuras, propicia um tempo de leitura diferente do propiciado pela editora Pulo do Gato, onde a página é, em primeira instância, compreendida como um todo, devido à grande profusão de imagens gerada pela composição das ilustrações em espaços horizontais em contraste com a organização do texto em colunas.

As divergências na aplicação da cor às ilustrações originais de Busch também permeiam o poema, provocando sensações diferentes durante a leitura. Enquanto a Iluminuras opta por uma colorização tradicional e de cores vibrantes, a Pulo do Gato apresenta a colorização do traço do desenho, sem preenchimento, como elemento diferenciador das ilustrações que se sobrepõem, trabalhando com uma ampla paleta de cores que se aplica inclusive ao fundo das páginas.

Todas essas escolhas e ainda outras, referentes a questões de forma e também a questões de tradução, transformaram um mesmo original em dois livros completamente diferentes, e que, portanto, propiciam leituras diferentes para diferentes leitores.

Com esse artigo e esse exercício de análise evidenciamos a mediação do projeto gráfico e do design de livros. Não se trata de avaliar se existe uma versão melhor ou pior, certa ou errada; até porque essas questões gerariam outra: melhor ou pior para quem? Sendo o leitor o sujeito potente para significar o texto, é ele que responderá com qual objeto-livro se identifica, qual representação dialoga com seus anseios e lhe oferece uma experiência de leitura prazerosa, afinal, quando falamos em leitura a subjetividade é a força motriz. 

 


 


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