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Para conversar um pouco mais sobre a morte: Harvey - como me tornei invisível
Por Daisy Carias, do blog A Cigarra e a Formiga

Há exatos 5 meses eu e o Francisco sofremos uma grande perda: meu pai,  avô e figura paterna do Francisco, faleceu. Na época eu contei por aqui e indiquei três livros que muito nos auxiliaram a conversar sobre esse assunto tão difícil, a morteForam livros que lemos e relemos muitas vezes, o que continuamos a fazer – e que sempre trazem novas perguntas do Francisco, conversas, dúvidas e às vezes até conforto.

Na semana passada tive a oportunidade de conhecer Harvey – Como me tornei invisível. Escrito pelo canadense Hervé Bouchard, é outro lindo livro infantil que trata do assunto. Nem preciso dizer o quanto me surpreendeu e emocionou – o assunto por aqui é muito recente, e ainda dolorido. Eu não sabia do que se tratava a história de Harvey – li sem nem antes ler a contra-capa, e de repente me vi mergulhando numa história emocionante, triste e bonita demais.

O livro é todo na voz de Harvey – ele começa se apresentando, e apresenta também sua família: papai Bouillon, mamãe Bouillon, seu irmão mais novo Cantin. Ali, nessa apresentação, a gente já vai logo sentindo a solidão e angústia do menino e tomando fôlego para o que vem por ali. Harvey conta sobre o início da primavera e as impressões que sua família tem dela – para ele, é a estação em que suas botas ficam pesadas, seus cadarços frouxos, as mangas de seu casaco de couro se esticam. É a época em que ele fica invisível.

O ritmo é meio de quadrinho, meio de cinema, cena a cena: acompanhamos o dia em que Harvey, Cantin e seus amigos disputam uma ‘corrida de palitos’. Para o pequeno Harvey, é uma enorme disputa, “grande  final internacional dos quinhentos metros de daqui-até-ali”, e seu palito tem até nome: Scott Carré. É nesse dia que muita coisa acontece: Scott não vence a corrida, fica por último. Atrapalha-se em meio a um pedaço de gelo, resquício da neve, e acaba sendo o último palito a escorregar bueiro abaixo. É apenas Cantin, o irmão, quem espera o final da corrida junto a Harvey – e voltam os dois para casa, caminhando.

É aí que o coração aperta fundo: quando chegam em casa, encontram uma ambulância e muitos curiosos em frente à casa. As expressões nos rostos dos curiosos assustam – e então os garotos compreendem: papai Bouillon morreu. Harvey chega a ver o corpo, coberto por um lençol, entrando na ambulância – mas não consegue reconhecer seu pai. Então entram na casa, os três – os irmãos e a mãe, um a um. A angústia de adentrar a casa vazia fica clara nas ilustrações impressionantes de Janice Nadeau. Os detalhes das expressões individuais; a mãe pequenina diante de uma parede sem fim; a planta baixa da casa com cada um em seu canto, sozinho.

Harvey, deitado em sua cama esperando um sono que não vem, recorda então a história de Scott Carré – o seu palitinho, o homem que encolheu. Scott é o personagem de um filme que de fato existe – um clássico da ficção científica, de 1957, chamado O Incrível Homem que Encolheu. Vítima de uma misteriosa nuvem que envolve seu barco, Scott vem a sofrer de um mal misterioso: começa a encolher, encolher, até um dia não ser visto por mais ninguém. É como Harvey se sente agora, sem seu pai: sozinho, minúsculo. 

Foi a parte do enterro que mais me tocou e me arrancou algumas lágrimas, admito. As impressões que os outros têm do cadáver, os comentários quanto à sua aparência, confundem e intrigam os irmãos. São imagens dispersas de um homem que não existe mais. Seu irmão corre ver o pai pela última vez no momento em que o caixão é fechado – mas Harvey prefere não fazê-lo (ele não alcança o caixão, essa é uma das razões). Termina no colo do seu tio, tornando-se, aos poucos, invisível.

A leitura foi muito mais minha do que do Francisco – eu até li com ele, mas fomos até onde seu interesse permitiu. Então vimos as ilustrações uma a uma, observamos os detalhes, conversamos sobre o que era aquilo tudo (a parte da corrida dos palitos foi o que mais deixou o pequeno interessado) e o livro voltou para a minha mesa de cabeceira – mas é uma obra que quero certamente reler com o Francisco quando ele ficar mais velho. A indicação da editora é a partir dos 9 anos – mas tenho certeza que o livro vai emocionar muita gente grande também. Da editora Pulo do Gato.


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