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ENTREVISTA COM IRENE VASCO SOBRE LETRAS DE CARVÃO
Livro ganhador do Prêmio Fundacion Cuatrogatos 2016

Publicada em: Fundacion Cuatrogatos - março de 2016

http://blog.cuatrogatos.org/blog/?p=4002


Como surgiu a ideia de Letras de carvão? Você se baseou em alguma história real?

Em 2011 e 2012 percorri boa parte de meu país, a Colômbia, ministrando oficinas junto a mães comunitárias, isto é, mulheres que cuidam de crianças de famílias de baixa renda da comunidade. Boa parte dessas visitas acontecia nos povoados do litoral do Oceano Pacífico, onde a população afrodescendente é predominante. Como se sabe, essas comunidades, desde a época da colonização, foram as mais desatendidas em todos os sentidos, principalmente no que se refere à educação, razão pela qual ainda é frequente encontrar educadores que, apesar de trabalharem hoje com crianças, possuem pais e avós que não sabem ler nem escrever.

Quando promovo oficinas em lugares que já começaram a ter acesso aos livros, a primeira coisa que peço é que as participantes contem como aprenderam a ler. A oportunidade de ouvir os relatos dessas mães indígenas, mestiças e afrodescendentes, que vivem em regiões afastadas das zonas urbanas, permitiu que eu comprovasse e refletisse sobre as mudanças pelas quais meu país tem passado. Há anos, quando comecei esse trabalho, as mães comunitárias conseguiam apenas, e a duras penas, escrever seu nome. Atualmente, muitas delas estão formadas ou estudam em institutos e universidades a distância, o que lhes propicia oportunidades de ampliar sua formação.

Quando eu lhes perguntava sobre como se deram os primeiros contatos com as letras, contavam-me muitas histórias interessantes que eu ia anotando em meu caderno. Por exemplo: uma menina que tinha desejo de ler as cartas de amor da irmã mais velha; uma jovem que lavava roupa no rio com a avó, e identificava letras no formato das pedras... Entre tantas histórias, percebi que sempre havia uma referência comum em todas as regiões: o giz de carvão. Pais, irmãos mais velhos ou pessoas próximas da família desenhavam letras e números nas paredes, no chão ou em qualquer parte, mesmo que não soubessem ler.

Dessa forma, inspirando-me nas histórias dessas corajosas mulheres, nasceu Letras de carvão, razão pela qual dedico a elas esse livro, já que me emprestaram suas palavras e histórias, que pude agora devolver-lhes com as lindas ilustrações de Juan Palomino.

 

Palenque existe de fato?

Palenque é apenas um dos tantos quilombos de meu país. Desde o período da colonização existem quilombos em toda a América Latina: eram os refúgios dos escravos que fugiam na tentativa de se salvarem do cativeiro. Quilombo era o lugar da liberdade. E eu associo os quilombos à liberdade que saber ler e escrever garante a todos os que se alfabetizam, à liberdade de viver sem que um senhor governe o destino de alguém. Quilombo e educação são, para mim, territórios de liberdade.

 

Qual seu maior desafio durante o processo de escritura deste livro?

Foram tantas as histórias que ouvi e anotei, tantos os lugares que visitei, que não foi nada fácil selecioná-las e integrá-las em um único fio narrativo.

Outro desafio foi o de fazer com que o texto pudesse ser lido, compreendido e desfrutado por públicos diversos. Precisei ser econômica com as palavras, por isso optei por escrever um livro ilustrado. E, para minha grande alegria, contei com a parceria de Juan Palomino, que contou, à sua maneira, o que não era dito por meio do texto verbal.

 

E como foi trabalhar com o ilustrador Juan Palomino? Você forneceu algum material para que ele usasse como referência?

Juan Palomino é um ilustrador muito talentoso, inteligente, sensível e comprometido. Não nos conhecíamos até então, mas eu recebia algumas provas durante o processo de produção do livro junto à editora.

No final de 2014, porém, pudemos nos conhecer pessoalmente na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, país em que nasceu e vive. Ainda que muito jovem, ele se mostrava muito seguro do que queria, mas eu, por minha vez, estava um pouco insegura. Não sentia que os leitores das comunidades em que estive se reconheceriam nas imagens abstratas de um artista em estava em busca de seu estilo pessoal.

Meu pedido para ele foi: “Por favor, não faça um livro apenas para ganhar prêmios. Gostaria de um livro para crianças, em que as pessoas se identifiquem e se sintam contentes por se reconhecerem na sua narrativa”. Juan, então, mudou seu ponto de partida e fez essa obra de arte, pela qual nunca me cansarei de lhe agradecer.

A partir de então passamos a nos comunicar com frequência. Enviei a ele fotografias das comunidades quilombolas. Depois, fomos limpando o texto, eliminando muitas frases que eram contadas por meio das imagens e que, por isso, se tornavam desnecessárias.

 

Você já publicou muitos livros. Como vê Letras de carvão no conjunto de sua obra?

[...] Creio que boa parte de minha obra se relaciona com a história de meu país, a Colômbia, de um modo ou de outro. Às vezes escrevo livros explicitamente informativos, como os de arte ou de história. Outras vezes faço narrativas: contos ou novelas. Dessa maneira, creio que Letras de carvão se integra nessas narrativas, por um lado falando sobre meu país, mas por outro, não deixando de ser diferente dos meus livros anteriores, por ser um livro álbum tão particular e belamente ilustrado.

 

O que gostaria de dizer aos leitores com esse livro?

Ah, eu gostaria que quando cada leitor terminasse de ler Letras de carvão, tivesse vontade de recomeçar a leitura!


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