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ROUPA DE BRINCAR NO TODA HORA TEM HISTÓRIA
Por Penélope Martins

Publicade em: Toda Hora Tem História - dezembro de 2015

https://todahoratemhistoria.wordpress.com/2015/12/03/roupa-de-brincar/

Depois de ler o livro, corri abrir as portas do meu guarda-roupas. Sim, eu tenho um velho roupeiro que foi comprado pelo avô justamente na ocasião do seu casamento. Isso deve ter praí uns oitenta anos. Oitenta anos? Nem é tão velho assim o meu roupeiro (mais velha é a palavra roupeiro e eu, já percebi, gosto de coisas velhas).

Tenho um vetido vermelo e verde com uma flor amarela. A saia é rodada para virar, virar, virar. Foi uma ideia exagerada de lembrar a aldeia onde nasceu o meu pai. (Eu admito que, além de coisas velhas, gosto d ecometer alguns exageros.)

Tenho um vestido xadrez que parece toalha de piquenique. O vestido era uma saia da minha mãe que eu levei para a máquina de costura transformar. Ainda vou bordar formigas vermelhas para o jogo de xadrez.

Tenho renda, tenho bolinhas, tenhos flores pequenas, grandes e médias. Tenho estampa que parece azulejo, tenho ladrilhos de calçada da praia também.

Depois de ler o livro, corri abrir as portas do meu guarda-roupas.

Tenho um ou dois vestidos pretos. As vezes minha vida fica doída como a vida de muita gente. É estranho viver. A gente sabe e quer ser feliz, mas não pode evitar de sentir dor. (Descobri em mim, logo cedo, uma capacidade de doer dores de outras pessoas. Até pessoas que eu não conheço, são importantes assim. Talvez seja porque eu visto a roupa delas dentro do meu roupeiro imaginário.)

Quando a gente veste uma roupa triste, sem graça, fica difícil caminhar. É o peso do sentir. (Apesar do peso, a gente tem tristeza na vida e precisa saber que existem dias só para ser triste, e chorar e chorar  – se quiser e puder).

O livro ficou do meu lado direito da cama. O guarda-roupa fica do lado esquerdo.

Não há nada que eu possa dizer sobre o livro. Há o livro e um vestido negro que permite fazer brotar novas histórias (algumas florinhas, quem sabe borboletas).

Sou péssima para esconder as roupas do roupeiro. Todo dia eu me visto com as cores do meu sentir. Vivo a mostrar meu sentir pelas ruas onde ando. As vezes as pessoas passam por mim e esboçam um sorriso. Outras vezes eu me pergunto o porquê de tanta gente sem cor no mundo (deve ser o direito de sentir tristeza por dores que eu não conheço).

Só sei que o livro ficou na mesinha do meu lado direiro. Bem de frente para o roupeiro. O livro dizendo para o roupeiro que não se pode deixar descolorir.

O livro foi composto por Eliandro Rocha e Elma. A direção de arte é de André Neves. A direção editorial é de Marcia Leite. O selo é da Pulo do Gato, editora de São Paulo. Clique aqui e leia a sinopse de ROUPA DE BRINCAR.



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