A Pulo do Gato completou 3 anos há alguns dias. Durante nossos três anos de vida e de exposição pública, nunca duvidamos de que nosso catálogo precisaria espelhar nossa concepção editorial e de mundo. Por isso temos uma preocupação tão grande na escolha de nossos títulos. Felizmente nosso projeto editorial tem recebido reconhecimento por sua qualidade, seriedade e coerência. Mas temos também encontrado muitos desafios e obstáculos... Um deles é o tema que nos reúne esta manhã.
Temos muitos livros que se encaixam na categoria "Temas Difíceis". Praticamente 10 dos 33 que temos hoje publicados. 
Aí vem a pergunta: Por que os escolhemos? Por que acreditamos que crianças e jovens necessitam de livros que falem sobre a vida?
Creio que vivemos num tempo de perversas contradições: a criança de carne e osso vive em um mundo que não "deve" aparecer na literatura. Mas só na literatura...
Em outras palavras, as crianças estão expostas a inúmeras situações às quais não conseguem absorver sozinhas, mas que são vistas, percebidas e sentidas por elas quando saem às ruas, ligam a tv, acessam a internet, assistem a filmes ou novelas inadequadas, ouvem a conversa de adultos ou a letra de uma música; ou quando acompanham o sofrimento de pessoas da família, ou quando veem crianças como elas abandonadas, ou tomam conhecimento de que milhares de crianças estão morrendo de fome, de abandono ou pela guerra dos adultos...
Essas são apenas algumas das situações "intrusivas" às quais a criança está exposta em seu cotidiano ou seja, o mundo que a aborda de fora para dentro.
Mas as crianças também convivem com seu mundo interior. E nesse mundo também brotam situações recheadas de medos, de inseguranças, de estranhamentos, de sentimentos desconhecidos, de suas dúvidas, de não saberes...
E foi para conversar sobre aquilo que é tão difícil de compreender: porque as crianças reais não podem ler histórias que falam de coisas difíceis, que resolvemos comemorar nosso terceiro aniversário com um café com troca ideias. Por que, apesar de difícil, a vida fica mais leve quando conversamos e compartilhamos nossas dificuldades.